VÍDEO mostra PMs fazendo escolta para pai e filho investigados por golpe milionário com consórcio rural no RS
08/12/2025
(Foto: Reprodução) VÍDEO flagra PMs fazendo escolta para pai e filho investigados por golpe milionário no RS
Um vídeo obtido pela RBS TV mostra policiais militares fazendo escolta para pai e filho investigados pela Polícia Civil por um esquema de consórcios para produtores rurais. Os três PMs que aparecem no vídeo, o pai e o filho foram presos durante operação na última quinta-feira (4).
O golpe teria lesado mais de 200 pessoas no Brasil em cerca de R$ 30 milhões ao longo de 10 anos, valor que era usado para custear as vidas de luxo dos golpistas (saiba mais abaixo).
A imagem mostra uma viatura da Brigada Militar (BM) estacionada em frente a um condomínio em Passo Fundo, na Região Norte do Rio Grande do Sul. Segundo a Polícia Civil, o carro estava ali para fazer a segurança do pai e do filho, os dois suspeitos de chefiar a organização criminosa.
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Marcelo Azevedo e o filho, Lucas, saem pela portaria e, logo em seguida, entram no veículo que está com o giroflex ligado.
"Os PMs tinham plena consciência de que eles eram estelionatários. Existem inúmeras ocorrências policiais de golpe de estelionatoq ue são acessíveis também pelos PMs, que poderiam ser consultadas por eles, em que a pessoa que eles estavam protegendo [aparecia]", conta o delegado Marcelo Batista Clerici.
Os advogados de Marcelo e Lucas alegaram, por meio de nota, que "a investigação incorre em compreensões equivocadas sobre o sistema de consórcios, confundindo transações lícitas com ilícitas, estabelecendo, ainda, uma suposta rede associativa entre pessoas e empresas que não possuem qualquer vínculo. No decorrer da investigação, a verdade restará demonstrada".
Já a corregedoria, também por meio de nota, divulgou que a BM colaborou "durante todas as etapas da investigação e no cumprimento dos alvarás judiciais". Além disso, "que dois deles (policiais militares) já estavam afastados da atividade operacional, em razão de ações internas previamente adotadas, resultantes de procedimentos investigatórios e de Conselho de Disciplina instaurado pela Instituição. A Brigada Militar reafirma que não tolera desvios de conduta e atua de forma rigorosa para proteger seus valores centenários".
Apartamento à beira-mar, viagens internacionais e passeios de lancha: empresas de consórcio rural suspeitas de golpe de R$ 30 milhões são alvo da polícia no RS
Jean Pimentel/Agência RBS
Operação policial
A operação policial aconteceu em Passo Fundo, na Região Norte do RS. Cinco pessoas foram presas. Elas teriam ligação com seis empresas de consórcio da cidade.
No total, foram cumpridos 16 mandados de prisão, sendo que 13 são de prisão preventiva. Além disso, entre imóveis e criptomoedas, os valores bloqueados chegam R$ 170 milhões. Quarenta veículos de luxo foram apreendidos, entre eles sete Porsches, somando R$ 15 milhões.
Conforme a Polícia Civil, o golpe é praticado desde 2016. Só em 2025, o grupo teria movimentado cerca de R$ 3 bilhões em vendas de consórcios.
VÍDEO flagra PMs fazendo escolta para pai e filho investigados por golpe milionário com consórcio rural no RS
Reprodução
Como o esquema funcionava
A Polícia Civil explica que os suspeitos de estelionato procuravam comerciantes e agricultores para oferecer cartas de crédito supostamente contempladas. Para ter acesso a elas, as vítimas do esquema depositavam cerca de 10% do valor acordado e, depois, descobriam que a carta não havia sido contemplada – e perdiam tudo que pagavam.
🔎 Carta de crédito é um documento financeiro que representa um valor para a compra de um bem ou serviço. Ela é obtida quando uma pessoa é contemplada em um consórcio. É como um pagamento à vista para o vendedor, permitindo ao consorciado ter poder de negociação para conseguir descontos. Diferentemente do dinheiro em espécie, ela deve ser usada para a compra específica acordada no contrato e não tem juros – é cobrada taxa de administração.
Houve casos em que os golpistas ligavam para as vítimas, depois de elas fazerem os pagamentos, dizendo que o administrador da empresa responsável pela carta entraria em contato por telefone e que, para ter acesso ao crédito, teriam que dizer saber que a carta não é contemplada – a fala da vítima confirmando saber disso é gravada, o que acabava virando uma prova em favor dos golpistas. No entanto, elas eram induzidas e enganadas.
Empresas de consórcio suspeitas de golpe são alvo da polícia no RS
Dinheiro usado para financiar vida de luxo
A investigação da polícia indica que, com o dinheiro das vítimas, os criminosos compraram imóveis de luxo no RS e em Santa Catarina. Só dois apartamentos em cidades catarinenses, um em Porto Belo, e outro em Balneário Camboriú, valem R$ 20 milhões.
Vídeos gravados pelos próprios suspeitos mostram um apartamento de luxo à beira-mar em Balneário Camboriú que havia sido adquirido. Há registros, ainda, de passeios de lancha e viagens internacionais.
Vítimas do esquema
Há casos de pessoas que perderam até R$ 2 milhões no golpe. Em um deles, uma produtora rural que sofreu prejuízos durante as enchentes que atingiram o RS esperava obter duas cartas de crédito para recuperar o negócio e nunca obteve as cartas de crédito.
Os criminosos ainda voltaram a falar com ela alegando que, com o pagamento de novos valores, um "lance", ela finalmente seria contemplada no consórcio – ela pagou e não recebeu. Outras pessoas também teriam caído no golpe.
Apartamento à beira-mar, viagens internacionais e passeios de lancha: empresas de consórcio rural suspeitas de golpe de R$ 30 milhões são alvo da polícia no RS
RBS TV/Reprodução
Nota dos advogados
"Adverte-se que a investigação incorre em compreensões equivocadas sobre o sistema de consórcios, confundindo transações lícitas com ilícitas, estabelecendo, ainda, uma suposta rede associativa entre pessoas e empresas que não possuem qualquer vínculo.
No decorrer da investigação, a verdade restará demonstrada.
Por fim, lamenta-se profundamente à espetacularização em torno do caso, que, ao arrepio da presunção de inocência, coloca em xeque reputações construídas duramente ao longo dos anos".
Nota da Corregedoria da Brigada Militar
"A Brigada Militar informa sobre o fato noticiado neste dia 04 de dezembro, referente à prisão de policiais militares investigados por crimes de estelionato. As prisões foram efetuadas pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, com plena colaboração da Corregedoria-Geral da Brigada Militar durante todas as etapas da investigação e no cumprimento dos alvarás judiciais.
Foram presos três policiais militares lotados em Passo Fundo. Importante destacar que dois deles já estavam afastados da atividade operacional, em razão de ações internas previamente adotadas, resultantes de procedimentos investigatórios e de Conselho de Disciplina instaurado pela Instituição.
A Brigada Militar reafirma que não tolera desvios de conduta e atua de forma rigorosa para proteger seus valores centenários. Sempre que necessário, coopera com o Ministério Público, Polícia Federal e Polícia Civil, garantindo que qualquer policial que se afaste dos preceitos éticos e legais seja responsabilizado.
Ao mesmo tempo, destaca que, preservando o sigilo próprio de investigações em andamento, eventuais condutas remanescentes ainda sob apuração seguirão sob análise e poderão resultar em novas medidas administrativas compatíveis com a responsabilidade individual de cada militar envolvido.
A Brigada Militar, há 188 anos servindo a sociedade gaúcha, reitera seu compromisso com a legalidade, a ética e a defesa do interesse público, adotando todas as providências necessárias sempre que identificada qualquer conduta incompatível com a Instituição".
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